sábado, 19 de junho de 2010

Morre o escritor português José Saramago



"O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer."

Nesta última sexta-feira (18) o mundo foi abalado com a notícia da morte do escritor português José Saramago, aos 87 anos, em Lo anzarote (Ilhas Canárias, na Espanha), onde morava desde 1993.

Segundo sua mulher, a jornalista Pilar del Río, Saramago passou mal após tomar o café da manhã e recebeu auxílio médico, mas não resistiu e morreu. Ele sofria de leucemia e, nos últimos anos, havia sido hospitalizado em várias oportunidades devido a problemas respiratórios.

"Hoje, sexta-feira, 18 de junho, José Saramago faleceu às 12h30 horas [horário local] na sua residência de Lanzarote, aos 87 anos de idade, em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença. O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila", diz uma nota assinada pela Fundação José Saramago e publicada na página do escritor na internet.

O escritor de “Ensaio sobre a cegueira” e “Caim” foi o único escritor de língua portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel da Literatura. Sua morte mexeu com colegas de profissão e admiradores famosos. A Academia Brasileira de Letras, onde Saramago era sócio correspondente, decretou luto. A bandeira da ABL ficará hasteada a meio mastro na sede da academia por três dias.

Saramago publicou no final de 2009 seu último romance, "Caim", obra com um olhar irônico sobre o Velho Testamento e, por isso, muito criticada pela Igreja.

Ateu e comunista, o escritor nasceu em 16 de novembro de 1922, em Azinhaga, uma aldeia ao sul de Portugal. Filho de agricultores sem terra que imigraram para Lisboa, abandonou a escola aos 12 anos para receber formação de serralheiro, um ofício que exerceria durante dois anos.

Em 1980, alcança notoriedade com o livro Levantado do Chão, considerado por críticos como seu primeiro grande romance. Memorial do Convento confirmaria esse sucesso dois anos depois.

Em 1991, ao publicar O Evangelho Segundo Jesus Cristo, livro censurado pelo governo português - Saramago se exila em Lanzarote, onde viveu até sua morte. Saramago foi marcado por ser polêmico e não ter papas na lingua.

Entre seus outros livros estão os romances O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), Todos os Nomes (1997), e O Homem Duplicado (2002); a peça teatral In Nomine Dei (1993) e os dois volumes de diários recolhidos nos Cadernos de Lanzarote (1994-7).

O excelente livro Ensaio sobre a Cegueira (1995) foi transformado em filme pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles em 2008. O filme foi duramente criticado em Cannes e amplamente diminuído entre outros críticos de cinema. Saramago tratou na obra de forma inteligente a distância do ser humano com o "ser" humano, ele nos faz chocar ao perceber a fragilidade da estrutura social, moral e espiritual vigente. Ele mostra como a visão - enquanto sentido mais precioso para a maior parte da humanidade - se torna algoz e singelamente "apaga" conscientemente as pessoas de sua humanidade.

No início do ano, José Saramago lançou uma nova edição do livro A Jangada de Pedra (1986), que teve toda a sua renda revertida para as vítimas do terremoto no Haiti.

Atualmente estava preparando um livro sobre a indústria do armamento. "Não será sobre o Corão, mas será sobre algo tão importante quanto todos os corões do mundo: por que não há greves na indústria do armamento. Uma greve na qual os operários digam: 'Não construímos mais armas'", afirmou, em entrevista em novembro. Em sua última passagem no Brasil, quando perguntando sobre o escritor Paulo Coelho, Saramago respondeu de forma explendorosa e magnífica: "Não precisei ler Paulo Coelho. Uma boa doença vale por toda obra."
fonte: folha.uol.com.br, g1.com, terra.com, fabubbles.com

1 comentários:

Anônimo disse...

Gostei.O blog está ótimo!