quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Até que ponto as pesquisas eleitorais passam credibilidade ao eleitor?

O mundo é governado pelos números. Portanto, os mesmos governam as pesquisas que hoje são usadas para tentar governar as eleições.
Essa relação talvez explique o estrondo provocado pelo choque dos números divulgados pelos institutos Vox Populi e DataFolha, para a corrida eleitoral. Um apontou Dilma Roussef (PT) com 43% das intenções de voto contra 35% de José Serra (PSDB).O outro indicou empate técnico, quase numérico, no qual o tucano tem 37% e a petista 36%.
Um abismo de 9 pontos separa as pesquisas, sem considerar a margem de erro. Um contraste surpreendente mesmo diante do argumento de que o campo de apuração é diferente. É sim. Mas nem tanto.
O Vox Populi fez sondagem de 17 a 20 de julho; o DataFolha entre 20 e 23. Considerando que o dia 20 é comum a ambos, há seis dias distintos de trabalho de campo. Por que uma alteração tão rápida na opinião dos eleitores sem um fato no período?
Nos sete primeiros meses de 2010, os quatro maiores institutos do País – Ibope, Vox Populi, Sensus e DataFolha – realizaram 20 pesquisas nacionais registradas no TSE.

Os dados serão de Dilma Roussef e José Serra respectivamente:
DataFolha – 2
4-25 fev. 28% e 32%; 25-26 mar. 27% e 36%; 15-16 abr. 28% e 38%; 20-21 maio 37% e 37%; 30-1 jul. 38% e 39%; 20-23 jul 36% e 37%.
O instituto jamais apontou Dilma à frente de Serra. Concedeu apenas um empate numérico entre os dois em maio.

Ibope – 6-9 fev. 25% e 36%; 6-10 mar. 30% e 35%; 13-16 abr. 29% e 36%; 31-3 jun. 37% e 37%; 19-21 jun. 40% e 35%; 27-30 jun. 39% e 39%.
O instituto apontou Serra a frente em três pesquisas, dois empates e apenas vantagem de Dilma em uma pesquisa.

Vox Populi – 14-17 jan. 27% e 34%; 30-31 mar. 31% e 34%; 8-13 mai. 37% e 34%; 30 jun. 40% e 35%; 17-20 jul. 41% e 33%;
7-10 de ago. 45% e 29%.
O instituto apontou Serra a frente em duas pesquisas, e Dilma em quatro.

Sensus – 25-29 jan. 27,8% e 33,2%; 5-9 abr. 32,4% e 32,7%; 10-14 mai. 35,7% e 33,2%; 31-02 ago. 41,6% e 31,6%.
O instituto apontou um empate técnico, uma vitória à Serra e duas vitórias à Dilma.

Divergência em pesquisa não é fato incomum. Não dessa forma, contudo. Um confronto entre os quatro institutos ficou comprovado depois que um “racha” virou notícia após a última reunião da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas (ABEP), quando João Francisco Meira (Vox Populi) disse que a projeção das pesquisas não excluía a possibilidade de Dilma Roussef (PT) vencer José Serra (PSDB) no primeiro turno. Houve uma reação irada de Mauro Paulino (DataFolha). Paulino, no entanto, não reagiu quando, muito antes disso, Carlos Augusto Montenegro (Ibope) garantiu que Dilma não venceria a eleição. Meira foi ousado. Montenegro ousou ainda mais. Meira fez “especulação estatística”. Montenegro fez uma afirmação política.
Acredito nas pesquisas. Mas não duvido de eventual má intenção do pesquisador. É possível manipular respostas, ainda mais em país subdesenvolvido dominado pelos meios de comunicação em massa, aonde uma simples pesquisa tem o peso de desencorajar ou estimular o telespectador, digo, eleitor de massa a votar em seu candidato. Até que ponto essas pesquisas passam credibilidade ao eleitor exigente?


Fonte: CartaCapital, Vox Populi, DataFolha, Ibope, Sensus.

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