segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Queridinho da Mamãe


(Parte III da série Honoráveis Bandidos)

O pimpolho mais novo, o benjamim, Fernando é o preferido da mamãe. Naqueles dias em que o pai assumia o mais alto posto do parlamento brasileiro, em que cumpria 50 anos de carreira política, se você entrasse no Google e digitasse: “Fernando Sarney”, entenderia imediatamente por que aquele 2 de fevereiro de 2009, não estava “descendo redondo” goela abaixo de José Sarney.

Logo de cara, podíamos ler no Google: “Polícia Federal pedia a prisão preventiva de Fernando Sarney”. Logo abaixo “JB Online – Polícia Federal quer ouvir Fernando Sarney”. Mas vamos clicar na terceira notícia, da Veja Online. O título diz “A família de 125 milhões de reais... e um genro”. O texto reproduz a reportagem da revista Veja impressa, número 1.742, de 13 de março de 2002, cuja manchete de capa diz: A candidata que encolheu

Refere-se ao famoso caso Lunus: um monte de notas de 50, num total de 1 milhão e 350 mil reais, que a Polícia Federal encontrou na sede da empresa do casal Jorge Murad-Roseana Sarney. Roseana, que subia que nem rojão como candidata do extinto PFL, murchou junto com o marido na tentativa de explicar a origem e destinação da dinheirama.

Mas ali, já despontava a estrela de Fernando, o verdadeiro portador da chave que abre e fecha os cofres do clã. O queridinho de Dorna Marly, assim que se formou engenheiro, foi fazer pós graduação em Deliquenciologia trabalhando como assessor do secretário de Transportes Leon Alexander. No governo de quem? Claro, Paulo Maluf (1978-1982).

Entregar aos cuidados do governador paulista o filho Fernando, que seria o cérebro a comandar seu império, mostra o grau de camaradagem que Sarney cultivava com Paulo Maluf. A tal ponto que Maluf, aceitou, sem pestanejar, a indicação de outro grande amigo de Sarney para a função de diretor-administrativo da companhia de águas de São Paulo, a Sabesp: Tauser Quinderê. Que mais tarde daria nome ao auditório da Sabesp, no bairro paulistano de Pinheiros, onde as empresas devem apresentar documentos quando querem participar de alguma – não é piada pronta – licitação.

Tal era a confiança de Sarney em Tauser Quinderê, que o usou como pombo-correio. Por mais de 20 anos, de tempos em tempos Tauser ia pessoalmente à Suíça levar a mala com as “economias” de Sarney. Certo começo de tarde, instalado numa mesa do Bar da Onça, no térreo do edifício Copan, em São Paulo, Helito, bisneto do Barão de Amparo, contra entre talagadas de uísque.

“Na ditadura, não tinha esse problema, na Suíça entra tudo, então ia com a mala. Não tinha negócio de doleiro não, economizava os quatro por cento do doleiro. E, numa dessas viagens, em Genebra, o Tauser teve um ataque fulminante do coração e morreu, no saguão do aeroporto. Atenderam o Tauser e levaram a mala. O Sarney ainda não era o bilionário que é hoje, mas já era um homem rico. Tinha sido governador, era senador, já tinha os diretozinhos e o próprio Fernando Sarney na Eletronorte, o Astrogildo Quental levantando dinheiro pra ele, que estava começando a argamassar a fortuna. E nessa mala tinha muito, era uma mala de viagem lotada de dinheiro, e o Tauser morre com ela. Como Sarney é sabidamente sovina, o Tauser viajava sozinho, de classe econômica, aquelas coisas, sem acompanhante, nada. Pegaram o corpo do Tauser e a grana não apareceu até hoje. Tem mais um rico no mundo.”

Depois de dois belos goles de uísque, a aristocrática figura do ex-sub-chefe da Casa Civil de Maluf retoma o fio da história:

“Ao saber da notícia de que perdeu o fiel escudeiro – e também a mala - o coração de Sarney fraquejou. Impactado por ambas as perdas, deixou Brasília em direção aos cardiologistas de São Paulo. No learjet do dono do cimento Cauê, o mineiro Juventino Dias”

Tempos depois, já um cleptocrata de alto coturno, quando o pai deixava a Presidência, Fernando Sarney teria a oportunidade de pôr em prática o que de melhor havia aprendido com Maluf. Nessa altura, Sarney estava rompido com Maluf, desde a Convenção do PDS em 1984. Aqui cabe, entre parênteses, uma nota para quem gosta de futurologia do passado. Tancredo chegou a procurar Paulo Maluf para sondar se toparia ser vice, para mais facilmente derrotara a ditadura. Maluf não topou. Se topasse, seria ele, Maluf, o presidente em vez de Sarney...

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