quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Verdadeiro Trem da Alegria



(Parte II da Série Honoráveis Bandidos)

Roseana deu os primeiros passos na política em pleno Palácio do Planalto, no Gabinete Civil da Presidência da República, aos 32 anos, formada em ciências sociais, um vernizinho de esquerdista, um violão mal tocado, o apelido de Princesinha do Calhau – menção à mansão colonial na praia do Calhau, que ocupa um quarteirão inteiro de 20.000 metros quadrados.

Quem entra na mansão de Sarney imagina tudo, menos uma residência. Sarney chegou a retirar o portão de ferro fundido do cemitério de Alcântara, ilha tombada pelo Patrimônio Histórico, e levar para casa como peça de decoração. Quando o visitou, o ex-presidente socialista de Portugal, Mário Soares, levado à mansão, depois de algum tempo de espera, perguntou a Fernando, filho caçula do senador:

“Agora vamos à casa do presidente Sarney?”

Pensou que estava num museu.

Folha Online, 25 de março de 2009: “Sarney, ACM e Renan criaram 4.000 vagas no Senado”

Trem da alegria – Entre os servidores efetivos, nem todos são concursados. Estes somam cerca de 1.200. Entre 1971 e 1984, os senadores aproveitaram para efetivar servidores por meio de atos administrativos, embora isso fosse vedado pela Constituição. A atual líder do governo no Senado, Roseana Sarney (PMDB –MA), é servidora do Senado graças a um trem da alegria de 1982, assinado pelo então senador Jarbas Passarinho.

O coronel Jarbas Passarinho prestou grandes desserviços à nação, seja como ministro da Educação da ditadura militar quando reprimiu e perseguiu estudantes e professores, seja como incentivador do AI-5. No finalzinho da ditadura, serviu aos apaniguados com o ato que beneficiou a filha dileta de seu amigo José Sarney, antecipando o legítimo Trem da Alegria de 1984, do senador do PDS Moacyr Dalla, que embarcou 780 felizardos na gráfica do Senado e outros 600 nos gabinetes da Casa, entre eles a mesma Roseana, que nem morava em Brasília, mas no Rio.

Pós-Trem da Alegria

Na eleição de 1994, para o governo do Estado do Maranhão, Epitácio Cafeteira perdeu para Roseana, no segundo turno, por um por cento dos votos. Cafeteira havia ganhado o primeiro turno com folga e no segundo foi derrotado por um triz graças, segundo denúncias documentadas, a uma fraude grosseira nas apurações. O que se sabe com certeza é que papai Sarney instalou-se pessoalmente dentro do Tribunal Regional Eleitoral, o TRE, e de lá só saiu quando os votos para a vitória da filha estavam assegurados.

O colunista Márcio Moreira Alves, no jornal O Globo, denunciou que o próprio Cafeteira teria recebido uma fortuna para ficar quieto, aceitar a derrota (apesar de vencer por 70 mil votos) e fazer corpo mole no recurso junto ao Tribunal Superior Eleitoral – perdeu o prazo. Jamais qualquer uma das partes respondeu à gravíssima acusação de Moreira Alves.

0 comentários: